segunda-feira, 26 de maio de 2008

A verdadeira história de Janis Joplin - Parte 2

Para Port Arthur, Janis começou a ficar incômoda. Primeiro porque, com a chegada da adolescência, ficou muito feia: espinhas, cabelos ásperos, gorda. Uma dama do sul tem de ser bonita, suave, quieta. Os colegas rejeitavam Janis porque ela era feia, e ela respondia com agressividade. Maus modos. Depois, Janis pensava. Pensava além do mundo estreito da cidade, além dos limites do bom comportamento que uma garota texana deve ter. Janis lia muito, lia de tudo: política, arte, filosofia. Com 12 anos ela teve a audácia de se dizer a favor da integração racial, em plena sala de aula. "A partir daí tinha sempre um grupo de garotos atrás dela vaiando e gritando que ela era amante dos crioulos", lembra uma antiga amiga. Com cerca de 14 anos, ela se perguntava com insistência porque não conseguia ser como suas coelgas, porque não podia fazer o que os rapazes faziam, jogar sinuca, beber nos bares de Louisiana, tocar violão e cantar nas praias do Rio Neches até de madrugada. Se era feia, mal educada e estúpida, ela não tinha nada a perder. Não seria uma bela garota texana. Seria um dos rapazes.
"No começo a gente não queria saber dela. Depois a gente passou a achar engraçado o jeitão dela, os palavrões que ela dizia. Ela era barra pesada até para nós. Depois ela não chateava, a gente podia dizer e fazer qualquer coisa na frente dela que ela não ligava. Ela era um de nós. Ela era o bobo da corte", recorda Jim Langdon, um dos rapazes. Foi com o grupo de Langdon que Janis começou a se interessar por música. Antes ela expressava seus conflitos e suas dúvidas na pintura, e estava mesmo decidida a ser uma artista plástica. Mas os garotos ouviam música. Era o final da década de 50: o rock and roll estava quase morto. Quem era "por dentro" ouvia jazz e música folk. Foi por aí que Janis começou seu aprendizado musical. O lado técnico, digamos assim.
"A gente escutava muito jazz, lá em Port Arthur. Um dia eu achei um disco de Odetta numa loja de lá. Eu comprei o disco e curti muito, eu tocava os discos em todas as festas que a gente ia. Odetta cantava canções folclóricas, tinha uma voz muito clara, sabe como é? E um dia um amigo me falou de Leadbelly, de como ele era um cara incrível na linha country dos blues, e eu me liguei em Leadbelly e saí procurando todos os discos dele. Em casa eu ficava ouvindo Odetta e Leadbelly, lendo muito sobre música e poesia, aprendendo aquelas canções, tentando imitar. Aí um dia a gente tinha ido curtir na praia - a gente ia para uma torre de vigia abandonada, levava cerveja e coca-cola e ficava lá, tocando e conversando até o dia nascer - então a gente estava nessa torre, e eu estava meio alta e disse: Eu sei cantar. E os caras disseram: Corta essa, Janis. mas eu insisti, e comecei a cantar igualzinho a Odetta. Os caras vibraram". Por enquanto, era só isso, um canto, uma habilidade, mais uma credencial para torná-la querida entre os rapazes. Ainda não eram os blues.

Nenhum comentário: